A guerra dos clãs de Gaza contra o Hamas
Milícias locais reagem à opressão do grupo terrorista e declaram apoio ao plano de Trump

Milícias anti-Hamas, atuantes na Faixa de Gaza, manifestaram-se apoio ao plano de paz anunciado em 29 de setembro pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao lado do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
- “Nós, das Forças do Exército Popular do Norte da Faixa de Gaza, estendemos nossos sinceros agradecimentos e apreço ao presidente dos EUA, Donald Trump”, disse o líder Ashraf al-Mansi (foto).
- “Nós vemos no plano do presidente Donald Trump um caminho para parar o derramamento de sangue e trazer paz ao Oriente Médio”, disse o líder das Forças Populares, Yasser Abu Shabab.
- “Nós, das Forças de Defesa Popular e dos honrados clãs da Palestina na Faixa de Gaza, dedicaremos nossos maiores esforços e todas as nossas capacidades para garantir o sucesso desta proposta”, disse o líder das Forças de Defesa Popular, Rami Hillis.
As filmagens desses três pronunciamentos foram reunidas e divulgadas em vídeo do Centro para Comunicações de Paz (CPC, na sigla em inglês), que trabalha “através de mídia, escolas e centros de liderança espiritual e moral no Oriente Médio e no Norte da África para reverter ideologias divisivas e promover uma mentalidade de inclusão e engajamento”.
Leia também: Hamas em colapso
"Confrontos mortais"
O CPC relata, no mesmo vídeo, que o apoio ao plano americano “coincidiu com confrontos mortais que eclodiram na manhã de sexta-feira, 3 de outubro, perto de Khan Yunis, na Faixa de Gaza, entre milícias locais anti-Hamas e combatentes do Hamas, deixando supostamente cerca de 20 membros do grupo terrorista mortos, incluindo um comandante”.
“Isso marca a primeira vez que milícias anti-Hamas provaram no terreno sua capacidade de desafiar o Hamas em combate aberto e expulsá-los de suas áreas.
Já vimos confrontos menores antes, mas isso parece marcar uma grande escalada.
Os confrontos supostamente começaram quando membros da notória unidade Saham do Hamas, conhecida por suprimir brutalmente vozes dissidentes em Gaza, entraram na área de Khan Yunis na manhã de sexta-feira [3 de outubro], com a intenção de prender vários moradores e transferi-los para um ‘hospital’ para interrogatório e possível execução.
Esse é o tipo de comportamento pelo qual a unidade Saham ficou notória: sequestrar pessoas nas ruas, brutalizá-las e, em alguns casos, executá-las publicamente para mostrar que o Hamas ainda é dominante e está no controle.
Portanto, a unidade é particularmente odiada nas ruas de Gaza, e não surpreende que os moradores se voltem contra ela em primeiro lugar.
A Free Press [empresa de mídia fundada pela jornalista americana Bari Weiss, ex-Wall Street Journal e ex-New York Times, para publicar histórias ‘ignoradas ou interpretadas a serviço de uma narrativa ideológica’] já noticiou anteriormente o surgimento de milícias anti-Hamas, apoiadas discretamente por Israel, EUA e outros aliados ocidentais.
Nos últimos meses, um número crescente desses enclaves se estabeleceu em toda a Faixa de Gaza. Inicialmente, havia apenas um. Agora há pelo menos quatro, provavelmente entre oito, nove ou dez. Essas milícias estão crescendo. Elas estão começando a se consolidar e também se tornando politicamente mais sofisticadas.
O colapso do Hamas parece estar realmente chegando agora. Em meio à intensificação da campanha militar israelense na Cidade de Gaza e o anúncio do plano de Trump que isola o Hamas diplomática e politicamente, agora, no próprio terreno em Gaza, vários atores locais estão se mobilizando para desafiar o Hamas em suas ruas e áreas.
Esses três fatores juntos representam uma ameaça existencial para o Hamas. Pela primeira vez em uma geração, podemos estar realmente vendo o fim do domínio do Hamas em Gaza”, conclui o CPC.
Assassinatos filmados
A unidade Saham do Hamas havia executado três homens na noite de 21 de setembro, no oeste da Cidade de Gaza, perto do Hospital Shifa, acusando-os de colaborar com Israel e de serem ligados ao clã de Yasser Abu Shabab.
O vídeo das execuções foi divulgado no X pela conta Gaza Report, que monitora os relatos locais e as publicações de moradores e terroristas em redes sociais e aplicativos.
“Eles foram baleados à queima-roupa enquanto uma multidão observava. Em seguida, seus corpos foram abandonados na rua com cartazes dizendo: ‘A todos os mercenários da ocupação — é hora de cortar suas cabeças’.
Esses assassinatos não foram ocultados — foram filmados. Ao contrário de muitos vídeos de espancamentos ou tiros nos membros, execuções como essa são intencionais. São atos calculados, concebidos para incutir medo e reprimir a dissidência na população”, explicou o Gaza Report.
A conta depois detalhou os conflitos de 3 de outubro como uma tentativa da unidade Saham do Hamas de retaliar o poderoso clã Al-Mujaida, que, no entanto, fez “um contra-ataque feroz, matando entre 11 e 22 membros da unidade Sahem. Alguns relatos afirmam que a família jogou os corpos dos combatentes do Hamas em lixeiras públicas” e que “cinco membros do Hamas foram capturados vivos”.
“Este confronto ocorre em um momento em que a frustração pública em Gaza cresce, especialmente após relatos de que o Hamas rejeitou a mais recente proposta de cessar-fogo”, concluiu o Gaza Report, apontando para “o início de algo maior se formando” na região.
Recado
O ativista Moumen al-Natour, que critica de dentro da Faixa de Gaza o grupo terrorista, mandou seu recado em vídeo:
“Pessoal do Hamas, chega. Basta do que vocês estão fazendo. Aceitem a proposta de Trump. É a melhor oferta na mesa agora. Não só israelenses, americanos, o mundo e os árabes, mas todos já não aceitam vocês.
Até nós, o povo de Gaza, não queremos mais vocês. Não queremos seu governo. Antes de 7 de outubro, já estávamos zangados com seu governo. E hoje, depois que nos destruíram e deixaram o país arrasado, nós não queremos seu governo.
Aceitem a proposta de Trump, libertem os prisioneiros israelenses e alguns palestinos. Digo 'alguns', pois é impossível libertar o número que criaram após 7 de outubro.
Dizemos: aceitem a proposta, entreguem as armas pesadas às forças internacionais que virão para a Faixa de Gaza.
Parem de roubar o pão, parem de roubar a ajuda humanitária, parem de roubar tudo em nossas vidas. Roubaram nosso dinheiro e nosso tempo de vida. Vocês nos roubaram, nos perderam. Nos destruíram.
Deixem-nos reconstruir Gaza. Deixem-nos reconstruir nossas vidas. Chega, seus criminosos mercenários. Deixem-nos reconstruir a nós mesmos. Deixem nossas crianças voltarem às escolas. Deixem-nos reconstruir os hospitais que foram destruídos por sua causa.”
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)