Quando cairão os juros no Brasil?
Gestores enxergam o primeiro corte da Selic em março de 2026, com os mais otimistas antevendo que isso pode ocorrer já em janeiro

Hoje o Copom se reúne para decidir o destino da Selic, a taxa básica que move a economia brasileira. Analistas de bancos e fundos preveem com unanimidade que ela deverá ser mantida em 15% ao ano.
Isso porque apesar da melhora nas últimas medições, a inflação ainda teima em pairar acima da meta de 3%, com projeções do Boletim Focus apontando 4,83% para 2025.
Esse descompasso força o Banco Central a segurar o freio monetário, evitando que preços disparem ainda mais. Por trás dos números, a dinâmica é que o IPCA acumulado em 12 meses chegou a 5,13% em agosto, depois de uma atípica deflação no mês, que não deve se repetir tão cedo.
A política fiscal, com déficits primários projetados em 0,5% do PIB para este ano, adiciona volatilidade.
Gastos públicos elevados, graças sobretudo aos auxílios diversos e investimentos em infraestrutura, pressionam as contas, elevando o risco-país.
O real, aliás, se valorizou 12% ante o dólar desde os picos de R$ 6,01 em abril, cotado agora em 5,30 reais, um alívio que segura a inflação importada de commodities.
Pelo modelo de Taylor, que guia o BC, a taxa neutra gira em 12%, mas com o PIB projetado em 2,3% para 2025, acima do potencial de 2%, o Copom prioriza conter a inflação.
Cortes cedo demais poderiam reviver a explosão de 2021, quando a Selic, que tinha despencado para de 2% saltou para 13,75% até 2022.
O exterior pode facilitar: o Fed, nos EUA, planejaria, cortar seus juros já a partir de da reunião do FOMC de hoje, baixando para a faixa de 4 a 4,25%, que pode ser seguido por mais um ou dois cortes nas próximas reuniões.
Gestores enxergam o primeiro corte no Brasil em março de 2026, para 14,5%, com os mais otimistas antevendo que isso pode ocorrer já em janeiro, chegando a 12,25% no fim do ano.
Isso reduziria o custo da dívida pública, que engole 8% do PIB em juros, e abriria um pouco de espaço para o crédito, aliviando o consumo e investimentos.
Para famílias e empresas, o efeito deve ser perceptível: empréstimos caros elevam a inadimplência a 30,2% das famílias, segundo a CNC.
Ainda assim, a valorização do real atraiu 21 bilhões de reais em fluxos estrangeiros só em 2025 até agosto, o que pode aumentar se a questão fiscal for encarada e se as tensões entre Brasil e EUA não criarem mais problemas.
A queda de juros, quando vier, deverá ser positiva, mas não marcará necessariamente o início de um ciclo virtuoso na nossa economia.
"Muitos pensam que baixar a taxa de juros melhora a economia, mas o investidor de longo prazo olha para as contas nacionais. Se a dívida aumenta, o investidor cobra juros maiores nos títulos, e isso faz com que a chamada ponta longa suba, independente da decisão do Copom. O curto prazo é só um reflexo; o problema real é estrutural", analisa Igor Lucena, economista e Doutor em Relações Internacionais.
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