Por que Tarcísio cruzou o Rubicão na Paulista
Centrão decidiu apoiar a anistia porque sabe que ela será bloqueada pelo STF, não havendo risco de Bolsonaro ser candidato. Além disso, renderá desgaste para Lula

Se, na semana passada, as movimentações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (foto), em favor da anistia ainda podiam ser vistas como parte do jogo institucionalizado, neste domingo, 7, a coisa mudou.
Chamar o ministro Alexandre de Moraes de “ditador” mostra que ele entrou em um caminho sem volta em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Tarcísio, até então considerado um moderado, tornou-se a ponta de lança de um crescente movimento de “bolsonarismo sem Bolsonaro”.
Por que ele fez esse movimento? E qual a razão de os partidos do Centrão também estarem embarcando nesse trem?
Anistia ou indulto?
Os partidos do Centrão querem os votos de Bolsonaro, mas não sua liderança.
Nesse cenário, Tarcísio sempre preferiu falar de “indulto” (que pode ser dado por um presidente) em vez de “anistia” (que precisa passar pelo Congresso).
A família ex-presidente, no entanto, deseja que a recuperação dos direitos políticos de Jair Bolsonaro seja condição prévia a qualquer acordo que possa vir a acontecer com a direita.
O que mudou?
Em primeiro lugar, o Centrão percebeu que o apoio à anistia é uma jogada com baixo risco e com ganhos potenciais de curto prazo.
O Centrão decidiu apoiar a anistia porque sabe que ela será bloqueada pelo STF, não havendo o risco de Bolsonaro ser candidato em 2026.
Além disso, a campanha pela anistia pode levar a um grande desgaste imediato de Lula.
Com o pé no acelerador dos programas sociais, o que poderia desestabilizar Lula politicamente?
Uma resposta é criar um grande tumulto político, coisa que a pauta da anistia entrega, afundando Lula em uma briga pública e parlamentar, desviando o foco de programas sociais e resultados positivos que poderiam ser colhidos pelo governo.
Além disso, ter a pauta travada aumenta exponencialmente o custo político de aprovação pautas essenciais para 2026 como a MP 1303, a aprovação do Orçamento e a desoneração do imposto de renda, chegando a ameaçá-las.
A questão da anistia cria tumulto suficiente para que deputados e senadores adiem indefinidamente essas votações, podendo até chegar ao limite de não as aprovar no tempo devido e desorganizar o governo para a corrida de 2026.
Do outro lado, como a chance de o STF aceitar uma anistia ampla – que absolva até eventuais desvios de conduta de Alexandres de Moraes (essa é uma das teses sobre a mesa) – são muito baixas, o centrão não teria que se preocupar com Bolsonaro candidato em 2026.
2. As ruas estão mostrando que a melhor pauta para direita ainda é o discurso anti-establishment.
Se Lula vai requentar a campanha de 2022, afirmando que vai trabalhar para a defesa da soberania (antes era a democracia), a direita pode ter realizado que nem a economia e nem a corrupção serão suficientes para derrotar o PT e que ressuscitar a pauta de 2018, mas com foco no STF, é a maneira de entrar de forma competitiva em 2026. Além disso, muitos membros do centrão podem estar se sentindo verdadeiramente ameaçados pelo Judiciário e não querem ver seus aliados mais conservadores presos ou investigados. A votação seria, na verdade, uma expressão genuína de apoio à pauta anti-STF.
A tese de que o Centrão apoia a anistia como uma jogada de xadrez para desgastar Lula sem correr o risco de fortalecer Bolsonaro faz sentido considerando que se trata de um ator que age de forma pragmática e sem lealdades fixas.
E faz sentido também a ideia de que Lula, ao radicalizar nas medidas populistas mirando a reeleição, estimule uma radicalização também nos setores oposicionistas, que podem ter encontrado na bagunça institucional um caminho.
Rubicão
Em 49 a.C., Júlio César era um general vitorioso e popular, comandando legiões romanas na atual França. A lei romana proibia que um general entrasse na Itália, cruzando o rio Rubicão, à frente de suas tropas.
O Senado romano, temendo o poder de César, ordenou que ele desmobilizasse seu exército e retornasse a Roma sozinho.
César rebelou-se. Ao atravessar o rio, proferiu a frase em latim: "Alea iacta est" (a sorte está lançada).
Na Paulista neste domingo, 7, o governador Tarcísio cruzou o seu Rubicão.
Leonardo Barreto é cientista político
Instagram: leobarretobsb
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Comentários (1)
Carlos Renato Cardoso Da Costa
2025-09-08 12:34:56E o Brasil a gente vê depois!