O que ainda impede um acordo entre Israel e Hamas?
Enquanto os delegados americanos Kushner e Witkoff buscam persuadir Israel a fazer concessões, Turquia e Catar assumem a responsabilidade pela mediação com o Hamas

A expectativa de progresso nas negociações para um cessar-fogo na faixa de Gaza aumenta com a chegada, na quarta-feira, dos delegados americanos Jared Kushner e Steve Witkoff em Sharm al-Sheikh, cidade costeira egípcia.
Segundo relatos de veículos de comunicação, baseados em fontes governamentais americanas, ambos não deixarão o local sem uma acordo entre Israel e o Hamas.
Na mesma data, o primeiro-ministro do Catar, Tamim bin Hamad Al Thani, e o chefe da inteligência turca, Ibrahim Kalin, também desembarcaram no Egito.
A estratégia parece delineada: enquanto Kushner e Witkoff buscam persuadir Israel a fazer concessões, Turquia e Catar assumem a responsabilidade pela mediação com o Hamas.
Esta colaboração é vista como necessária, dado que ainda persistem significativas divergências entre o Estado israelense e a organização palestina.
Os obstáculos ao acordo
Uma das principais questões a ser debatida refere-se aos prisioneiros que Israel está disposto a libertar.
De acordo com informações divulgadas pelo Hamas, um documento contendo a lista dos detentos cuja liberação é exigida foi entregue na quarta-feira.
O plano elaborado durante a administração Trump prevê que Israel libere 250 prisioneiros palestinos condenados à prisão perpétua em troca das 48 reféns ainda sob sua custódia. Além disso, outros 1.700 indivíduos que foram detidos por Israel desde o início do conflito no território de Gaza.
Líder do Fatah e corpo de Sinwar
Entre as demandas da Hamas está também a soltura de Marwan Barghouti, ex-líder do braço militar do Fatah, que cumpre pena há 23 anos.
Oded Ailam, ex-chefe da divisão antiterrorismo do Mossad, argumenta que Israel não liberará Barghouti devido ao seu prestígio entre os palestinos. “Isso permitiria que a Hamas proclamasse uma vitória”, afirmou Ailam.
Contudo, ele não acredita que a ausência da liberação desse prisioneiro levará ao fracasso das negociações; os mediadores turcos e catarianos provavelmente não permitirão que tais discussões se interrompam por conta de uma questão considerada secundária.
O jornal "Wall Street Journal" reporta ainda que os terroristas palestinos demandam a devolução dos corpos de Yahya Sinwar e seu irmão Mohammed.
Sinwar é considerado um dos responsáveis pelo ataque devastador ocorrido em 7 de outubro de 2023 e foi abatido por tropas israelenses no sul da faixa de Gaza no ano passado.
Retirada israelense
A retirada das forças israelenses do território também é um ponto controverso nas negociações. A preocupação da Hamas é evidente: ao entregar os reféns, perderiam seu poder de barganha.
Informações veiculadas pela emissora catariana Al Jazeera indicam que a organização não liberará seu último refém até que Israel tenha completado sua retirada do Gaza.
De acordo com o plano proposto por Trump, no entanto, todas as reféns deveriam ser libertadas dentro de um prazo de 72 horas antes que as tropas israelenses iniciassem sua retirada gradual.
Progresso nas negociações
A presença dos principais negociadores dos EUA, Turquia e Catar sugere, porém, que há progresso nas conversações. Se houvesse incertezas sobre pontos cruciais na fase inicial das discussões, Kushner e Witkoff possivelmente não teriam se deslocado até lá.
Entretanto, mesmo com detalhes sobre a troca de reféns e prisioneiros assim como sobre a retirada israelense sendo esclarecidos, desafios substanciais ainda permanecem nas conversas.
O plano de Trump inclui uma desmilitarização completa do Hamas e do Gaza. Para o Hamas, no entanto, é crucial manter suas armas, enquanto para o governo israelense, a desmilitarização é fundamental. Talvez esse seja o maior de todos os impasses.
Os parceiros da coalizão liderada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu já ameaçaram deixar o governo caso o Hamas continue existindo após um cessar-fogo.
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