Espanha rejeita jatos americanos
A lógica é tanto econômica quanto política: fortalecer a autonomia europeia em defesa e tecnologia e depender menos de Washington

A Espanha decidiu arquivar a compra dos caças F-35, fabricados pelos Estados Unidos, e voltar os olhos para o mercado europeu.
A medida, anunciada discretamente nesta semana após ser noticiada pelo jornal El Pais, sinaliza uma importante mudança de rumo na estratégia militar do país e um recado à indústria de defesa americana: Madri prefere investir em soluções feitas dentro do continente.
Nesse cenário, a aquisição dos avançadíssimos F-35 Lightning II, que custam mais de 100 milhões de dólares cada um, acabou eliminada.
A lógica é tanto econômica quanto política: fortalecer a autonomia europeia em tecnologia e defesa e depender menos dos EUA, que limitariam o acesso a certas tecnologias sensíveis da aeronave, e que também tem sido comercial e diplomaticamente pouco flexível com seus parceiros de Otan.
Só que a decisão tem consequências. A Armada espanhola contava com os F-35B, capazes de decolar verticalmente, para substituir seus envelhecidos Harrier, cuja aposentadoria está prevista para 2030.
Sem eles, o porta-aviões Juan Carlos I poderá ficar temporariamente sem parte da sua capacidade aérea embarcada, tendo de contar apenas com helicópteros, já quem nenhum jato produzido na Europa tem essa capacidade.
Já a Força Aérea tem mais margem de manobra. Alguns de seus F-18, também americanos, devem voar até por volta de 2035, o que permite tempo para estudarem alternativas.
Uma delas é a compra dos Rafale franceses como solução provisória, enquanto o tão aguardado FCAS - o projeto conjunto entre Alemanha, França e Espanha para desenvolver um caça europeu de sexta geração - não se materializa, o que deve acontecer somente a partir de 2040.
Com um orçamento previsto de mais de 10 bilhões de euros (2% do PIB) para modernizar suas Forças Armadas, o governo de Pedro Sánchez comprometeu-se a destinar até 85% desses recursos à indústria europeia.
O principal recado que fica é não se tratou de uma simples escolha de aviões, esse recuo espanhol evidencia um movimento estratégico de menor disposição de agradar aos EUA e maior foco na integração com os projetos de soberania do seu próprio continente.
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