Encontro de hoje pode redefinir guerra da Ucrânia
Reunião hoje em Washington: Trump pressiona Zelensky sobre acordo de paz. Principais líderes europeus viajam em peso para o encontro.

O encontro entre Donald Trump e o ditador Vladimir Putin no Alasca na semana passada deixou a Europa em alerta.
A expectativa de alguns poucos otimistas era de avanços reais para uma trégua na guerra da Ucrânia, mas o resultado foi o que a maioria temia, mas já adiantava: o presidente americano parece ter cedido aos encantos de Putin e suas demandas.
O russo aproveitou o momento. Ao recusar concessões diretas e insistir em manter e ampliar o controle das áreas parcialmente ocupadas em Donetsk e Luhansk, Putin reforçou sua posição e deve ter saído satisfeito.
Trump, louco para chegar a um acordo de paz para lhe dar essa vitória no currículo - mesmo que seja um acordo claramente ruim para uma das partes - sinalizou disposição em negociar o congelamento da guerra nas linhas atuais, o que consolidaria ganhos territoriais de Moscou.
Para os diplomatas europeus, isso soa como uma paz ilusória, um arranjo que deixaria a Ucrânia fragilizada e vulnerável a outros ataques sem resolver a disputa de fundo. Os russos querem a Ucrânia inteira.
"Estilo Otan"
Após Trump se encontrar com Putin na sexta, alguns veículos afirmaram que o russo aceitaria que os Estados Unidos dessem alguma garantia "no estilo Otan" para a Ucrânia.
O problema é que o artigo 5 da Otan afirma que todos os membros da aliança militar devem reagir se um deles atacado.
E a Ucrânia está sendo atacada diariamente.
De acordo com o representante americano Steve Witkoff, uma proteção "no estilo Otan" é um conceito vago demais.
No caso de um ataque russo, isso não poderia envolver formalmente a aliança, afirmou Witkoff, o que levanta dúvidas se essas garantias teriam peso real diante de uma eventual nova ofensiva.
Nesse cenário, a pressão recai sobre os ombros do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que está a caminho de Washington para tentar reverter a percepção de isolamento.
Zelensky contará com apoio explícito de líderes europeus, visto que também se deslocam para os EUA o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, o chefe de governo alemão, Friedrich Merz, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente finlandês, Alexander Stubb e o secretário-geral da Otan, Mark Rutte.
Esse grupo enxerga o grande risco de erosão da soberania ucraniana - e europeia - caso Trump avance em negociações bilaterais com Putin sem consultá-los.
Mediador parcial
A situação expõe um impasse estratégico: Trump busca se apresentar como o mediador capaz de encerrar a guerra, mas sua postura parece beneficiar Moscou. Putin, por outro lado, ganha tempo e legitimidade ao ser tratado como parte essencial da solução.
Já a Ucrânia enfrenta o dilema de negociar sob extrema pressão externa sem renunciar ao próprio território, especialmente sem garantias muito fortes de que não haveria novos ataques daqui a alguns anos - basta lembrar os 8 anos de intervalo entre as invasões da Crimeia em 2014 e de Kharkiv em 2022.
A situação parece com a de um prédio onde um vizinho forte e violento invadiu um apartamento ao lado e o síndico quer convencer o dono do apartamento invadido e seus vizinhos do mesmo andar a cederem a sala de estar, como sendo algo razoável.
Outro problema é que o síndico mora longe, parece simpatizar com o invasor, e os dois juntos têm os maiores porretes de urânio e plutônio do prédio, o que dificulta as contra-argumentações.
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