Eleição crucial na Argentina
Javier Milei precisa se sair bem nas eleições parlamentares desse domingo para não perder a confiança americana e dos mercados
A Argentina terá eleições legislativas neste domingo, 26, sob interferência clara dos Estados Unidos, comandados por Donald Trump.
Nas semanas anteriores, o Departamento de Tesouro americano fez compras diretas de pesos e assinou uma linha de swap de 20 bilhões de dólares com o Banco Central da Argentina.
Mas tudo aconteceu vinculado ao resultado da eleição, em uma tentativa de influenciar o pleito.
"Se ele [Milei] perder as eleições, não seremos generosos com a Argentina", declarou Trump após um encontro com Milei em Washington na semana passada.
Javier Milei
O governo de Javier Milei aposta que o respaldo americano pode acalmar mercados e sustentar sua agenda econômica, mas a demanda por dólares por parte de empresas e cidadãos argentinos persiste a níveis recordes, pressionando o valor da moeda americana para cima.
A articulação financeira entre Washington e Buenos Aires, expressa sobretudo na linha de swap e em promessas de financiamento adicional de outros 20 bilhões de dólares, reforça o caráter estratégico que os americanos atribuem à estabilidade argentina.
Só que a operação internacional não convenceu os agentes do mercado. Mesmo com o aceno americano, os argentinos aceleraram a “dolarização” de seus portfólios, para tentar proteger os investimentos de eventuais flutuações futuras.
A credibilidade do governo e a solvência do sistema cambial continuam em xeque, sobretudo porque o país carrega um histórico extenso de calotes e reestruturações de dívida, o que limita o efeito de qualquer intervenção.
Reformas
O momento político é delicado. A depender dos resultados das eleições deste domingo, a agenda reformista de Milei poderá ficar comprometida.
Se ele não conseguir cadeiras suficientes na Câmara dos Deputados ou no Senado para barrar os vetos aos seus decretos presidenciais, sua situação ficará mais complicada.
O ônus de ter essa ajuda americana diretamente associada ao seu resultado eleitoral cria um clima de temor e desconfiança, já que os investidores interpretam uma eventual derrota do governo como uma ameaça ainda maior ao fluxo desse apoio externo.
Uma derrota da ala de Milei tanto coloca o socorro americano em risco, como pressiona as contas públicas.
Sozinha, a Argentina tem reservas internacionais reduzidas, insuficientes para contornar uma fuga intensa de capitais.
Assim, embora o aporte americano represente um instrumento de estabilização muito importante, ele ainda não reverteu a dinâmica de fuga para o dólar, nem restaurou a confiança no peso argentino.
O desafio imediato será traduzir esse apoio externo em uma mudança de percepção doméstica, sem a qual a crise cambial e inflacionária vai permanecer uma ameaça real ao país e à própria agenda de reformas que Milei pretende implementar.
O resultado das eleições será fundamental para isso.
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