Desacoplamento entre direita e bolsonarismo pode ter chegado
Convicção de que não há candidatura viável da direita sem o apoio de Jair Bolsonaro começa a perder força após divulgação das mensagens

Há um misto de sentimentos na cobertura sobre as mensagens pessoais do ex-presidente Jair Bolsonaro, vazadas pela Polícia Federal.
Uma parte destaca que o material é mais do que suficiente para justificar sua prisão preventiva.
Para esse grupo, ficou mais fácil evidenciar para o presidente Donald Trump que sua defesa do ex-presidente não vale a pena (uma visão talvez ingênua quando se conhece as verdadeiras causas da pressão, mas que serve para a batalha de narrativas).
Um outro grupo mostra incredulidade quanto ao nível de virulência do diálogo mantido entre Bolsonaro e o seu entorno, especialmente seu filho Eduardo, evidenciando o que já se sabia desde o seu período presidencial: a toxicidade da família que comandou o país entre 2018 e 2022 e que vitimou tantos aliados que se arriscaram a uma vida na corte.
Em inúmeros momentos da sua gestão, atores políticos do Congresso reclamaram da desconfiança excessiva, do clima de intrigas e da incapacidade de Bolsonaro conseguir criar laços políticos mais duradouros em razão de más influências.
Depois dessas mensagens, a explicação fica cristalina.
Mesmo em situação precária e não podendo negar receber ajuda, Eduardo Bolsonaro agiu para afastar Tarcísio de Freitas do grupo em razão de ciúmes e interesse de ser ele o candidato da família em 2026.
Isso tudo mostra que, embora Bolsonaro tenha uma enorme capacidade de causar terremotos políticos, decidir com pragmatismo e estratégia não é o forte da família.
Ter essa situação em mente é importante para quem tenta calcular o destino da direita em 2026, porque a convicção de que não há candidatura viável da direita sem o apoio de Bolsonaro começa a perder força.
A esperança de boa parte dos que torcem por Tarcísio era de que, depois de condenado e preso, Bolsonaro faria as contas e chegaria à conclusão de que a melhor forma de conseguir um indulto seria apoiar o governador paulista de forma antecipada e contundente.
Na direita, pode haver quem advogue que, mesmo com tantas condições objetivas jogando contra, nunca se poderá ter certeza sobre essa conclusão.
No entanto, olhando por outro angulo, essa desconstrução do “mito”, potencializada pela exposição da intimidade familiar, uma situação que seria embaraçosa para quase todo mundo, pode ter aberto a porta de outro cenário que é composto por três fatores.
Primeiro, Tarcísio, ao ser pintado como inimigo por Eduardo, pode ter sido empurrado mais para o centro, afinal, ele não era totalmente benquisto no clã.
Outra situação criada é um contexto no qual a centro-direita, ao ter claro que não pode ficar refém da forma caótica com a qual o ex-presidente toma suas decisões, decida definitivamente seguir caminho próprio.
Por fim, estando mais frágil do que nunca, Bolsonaro pode, de fato, ter que acelerar sua escolha por uma aposta mais certeira.
Esses fatores, somados, criam a terceira impressão sentida em Brasília desde ontem, de que o momento do desacoplamento entre direita e bolsonarismo, que só seria possível quando o ex-presidente se encontrasse no seu momento mais frágil, pode ter chegado.
Leonardo Barreto é cientista político
Instagram: leobarretobsb
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Comentários (2)
Luis Eduardo Rezende Caracik
2025-08-21 11:50:55Bolsonaro nada mais tem a oferecer a quem quer que seja. Inclusive penso que se Tarcísio declarasse hoje que jamais concederia indulto a Bolsonaro caso fosse eleito, ganharia muitos votos. Os extremistas incorrigíveis, que não são tantos assim, podem escolher Caiado e afundarem junto com ele em 2026.
VITOR CARLOS MARCATI
2025-08-21 11:38:13Deus lhe ouça e que a direta liberal de verdade se livre deste traste e sua família de imbecis para poder embarcar de vez no projeto presidencial de Tarcísio