Chile de 2025 é o Brasil em 2026
O presidente Lula certamente prestará muita atenção ao desempenho da comunista Jeannette Jara no segundo turno
O primeiro turno no Chile no domingo 16 de novembro traz importantes reflexões para as eleições presidenciais brasileiras de 2026.
Passaram para o segundo turno, marcado para o dia 14 de dezembro, os candidatos Jeannette Jara, do Partido Comunista, e José Antonio Kast (foto), do Partido Republicano.
Em vários pontos, pode-se esperar que o Brasil repita alguns fenômenos observados entre os chilenos.
Segurança beneficia direita
A principal preocupação dos chilenos é com a segurança, o que beneficiou os candidatos de direita que prometem medidas mais duras.
A entrada massiva de imigrantes venezuelanos e de cartéis, como o Tren de Aragua, levou a uma piora na percepção de segurança.
Os homicídios subiram 140% na última década, ainda que o país continue sendo mais seguro que o estado com menos mortes violentas intencionais do Brasil, que é São Paulo.
Durante a campanha, a megaoperação contra o Comando Vermelho no Rio de Janeiro assustou os chilenos, e o assunto acabou indo parar nos debates presidenciais.
A esquerda até tentou correr atrás para tentar mostrar que tinha uma solução para o problema.
A candidata do Partido Comunista Jeannette Jara propôs uma lei para quebrar o sigilo bancário do crime organizado.
Mas não adiantou.
Para um partido ou coalizão que está no poder, como o Partido Comunista do Chile ou o PT no Brasil, fica difícil explicar por que medidas não foram tomadas.
No Brasil, a preocupação do brasileiro com a violência subiu de 30% para 38% em um mês, segundo pesquisa Genial/Quaest. A economia ficou em segundo lugar, com 15%.
Rejeição ao governante
A reeleição não é permitida pela Constituição do Chile.
Mas a rejeição ao atual presidente, Gabriel Boric, deverá ser um obstáculo para sua candidata, Jeannette Jara, no segundo turno.
Segundo pesquisa do instituto Cadem, 63% dos chilenos desaprovam o governo de Boric. Apenas 33% aprovam. Com esses números, uma reeleição de Boric seria inviável.
"O governo de Boric foi caracterizado por uma desorganização no geral, tanto na economia, o que se refletiu em aumento da inflação, quanto na área de segurança pública", diz Thiago Vidal, diretor de análise política da Prospectiva.
No Brasil, onde a reeleição é permitida, deverá ocorrer uma relação ainda mais direta entre a aprovação do presidente e a quantidade de votos.
Segundo o Lulômetro, publicado em parceria com a Real Time Big Data, o petista tem aprovação de 31% e rejeição de 33%.
"[Lula] apanha da própria rejeição", escreveu o estrategista eleitoral Roberto Reis na última edição de Crusoé. "Mesmo sem sombra de concorrente estruturado, sem cardápio de opções colocado, Lula perde para ele mesmo. Perde para a rejeição, que insiste em ser maior que a aprovação."
Fracasso identitário
Boric apoiou uma Constituição com viés progressista identitário, que considerava o Chile como estado plurinacional, valorizava o meio ambiente e apoiava os temas dos indígenas e das mulheres.
O texto foi rejeitado em um referendo popular.
As pautas modernas mostraram-se boas para ganhar manchetes nos jornais e cobertura na televisão, mas não se converteram em votos.
Segundo turno
Jeannette Jara foi a vencedora do primeiro turno, mas terá muita dificuldades para se sair vencedora no segundo.
Isso porque os eleitores do Chile se inclinaram para a direita e devem optar por Kast.
Candidatos de direita derrotados no primeiro turno, como Evelyn Matthei e Johannes Kaiser, já pediram voto em Kast.
No Brasil, mesmo que a direita não se aglomere em torno de um único nome antes do primeiro turno, isso certamente ocorrerá no segundo turno.
O presidente Lula certamente prestará muita atenção ao desempenho da comunista Jeannette Jara no segundo turno no Chile.
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