A sucessão vai na marra
A prisão do Bolsonaro não é o fim da direita. É um novo começo
Sejamos adultos.
A prisão de Jair Bolsonaro não é uma surpresa. É a continuação lógica de um roteiro que ele mesmo ajudou a escrever.
E aí, muda a cena eleitoral?
Primeiro ponto: o jogo da direita entra em contagem regressiva forçada.
Enquanto Bolsonaro estava em domiciliar, mesmo queimado, ele ainda funcionava como fantasia de candidato.
Metade da direita ficava esperando um milagre jurídico ou geopolítico, a outra metade tinha medo de desagradar o mito.
Com a prisão, o recado institucional é simples: acabou a fase da ambiguidade.
Ou a direita escolhe um sucessor de verdade, com nome, número, cidade e partido, ou será atropelada por quem já está organizado. Ou seja, pelo Lula.
A física do poder não aceita vácuo, como sempre soubemos. Se a direita não ocupar o espaço político rápido, o espaço será ocupado por qualquer anomalia.
A sucessão vai na marra.
Os governadores que se imaginam presidenciáveis já entenderam.
A fila interna da direita não é feita de amor ao Brasil, é feita de cálculo: quem consegue herdar o espólio sem herdar a tornozeleira moral do bolsonarismo, que está fragilizada?
Se Bolsonaro quiser um mínimo de conforto jurídico, o gesto que o sistema espera é claro: admitir, mesmo que nas entrelinhas, que o ciclo eleitoral dele acabou e apontar outro nome.
Quando o centro de gravidade da direita migrar para outra figura, Bolsonaro passará a ser menos ameaçador, menos cobrado, menos tóxico.
Irá experimentar o regime do benefício.
No curto prazo, há alívio. Bolsonaro preso significa menos pressão direta sobre sua base parlamentar, menos risco de ser arrastado para aventuras institucionais e mais espaço para negociar com quem estiver “vivo” politicamente em 2026.
O que o Centrão quer é um hospedeiro viável (como sempre), não um mártir barulhento que aumenta o custo de cada movimento.
Ajuda a esquerda e o Lula.
Ajuda e atrapalha ao mesmo tempo.
A esquerda perdeu seu bobo da corte. A direita reorganizada sem Bolsonaro pode ser mais perigosa para ela no médio prazo.
Um candidato de direita com menos rejeição, mais disciplina e menos família atrapalhando tem mais chance de vencer a eleição do que um Bolsonaro radicalizando tudo.
Lula sabe disso. O entorno mais inteligente do petismo também. Por isso, não espere euforia. Há mais cálculo do que comemoração.
A prisão do Bolsonaro não é o fim da direita.
É um novo começo.
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