A real missão dos drones russos na Polônia
Esse episódio com drones parece menos um erro e mais um balão de ensaio para novos testes russos em solo da Otan

A incursão de quase 20 drones russos no espaço aéreo da Polônia, nessa quarta-feira (10), marcou a primeira vez em que caças da Otan engajaram diretamente forças de Moscou desde o início da invasão em larga escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022.
O episódio, ocorrido durante um ataque maior contra cidades ucranianas, foi interpretado por autoridades europeias e analistas militares como um teste deliberado da capacidade de resposta da aliança.
Apenas quatro drones considerados ameaça direta foram abatidos, enquanto a maioria parecia cumprir papel de distração, em tática já usada contra a defesa aérea ucraniana.
A operação expôs as vulnerabilidades conhecidas no flanco leste da Otan, que não dispõe de um sistema de defesa integrado e escalonado capaz de diferenciar rapidamente entre alvos de alto e baixo custo.
Com isso, caças de última geração como F-35, que custam muito caro para serem operados, precisaram ser mobilizados, assim como caças F-16, para abater drones baratos de fabricação iraniana, conhecidos como Shahed ou suas variantes usadas como iscas.
O que Moscou muito provavelmente queria com essa incursão era medir os tempos de reação, localizar brechas de cobertura da defesa e avaliar a coordenação entre os países aliados europeus.
O incidente ocorreu às vésperas e um exercício militar conjunto chamado Zapad, realizado pela Rússia e Belarus ao longo da fronteira com a Polônia, Estônia, Letônia e Lituânia, todos membros da Otan.
A Polônia reagiu elevando seu nível de alerta, fechando a fronteira com Belarus e acionando os sistemas de mísseis Patriot alemães estacionados em seu território.
O temor é de que a simulação, historicamente agressiva, sirva de plataforma para novos episódios de provocação ou mesmo para encobrir novas movimentações militares.
A escalada retórica de Moscou reforçou o clima de tensão, com autoridades russas acusando os países da Otan de preparar ofensivas e de transformar a região do Báltico em um palco de guerra híbrida, isso é com uso de recursos como desinformação, ciberataques, diplomacia, influência econômica e interferência eleitoral - justamente os tipos de ações pelas quais a Rússia é conhecida por praticar.
Já na Polônia e nos Países Bálticos, cresce a sensação de que a Rússia busca impor uma nova normalidade, com repetidas violações territoriais de baixa intensidade para fragilizar a coesão ocidental, sabendo que haverá tensões entre os partidários de que não se deve cair na armadilha e escalar a questão, e os que exigem uma resposta mais incisiva.
Esse episódio com drones parece menos um erro e mais um balão de ensaio, um sinal de que os próximos testes russos em solo da Otan podem ser ainda mais ousados.
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