A aposta de Novo Nordisk contra o Alzheimer
Remédios para obesidade podem tratar o Alzheimer? Novo Nordisk testa a semaglutida em mais de 3.700 pacientes

A farmacêutica Novo Nordisk vive um momento decisivo em sua trajetória ao submeter à prova a hipótese de que alguns de seus medicamentos inicialmente concebidos para combater a obesidade possam alterar o curso da doença de Alzheimer.
Em dois ensaios clínicos de fase 3, envolvendo cerca de 3.700 pacientes em mais de 30 países, a companhia dinamarquesa testa a eficácia do semaglutida, usadas no Wegovy e Ozempic, em pessoas com Alzheimer leve e os resultados, esperados ainda em 2025, podem redefinir estratégias terapêuticas e reestruturar seu valor de mercado.
A aposta de Novo Nordisk é arriscada. Seu valor em Bolsa caiu mais de 55% no último ano, e os problemas recentes no seu portfólio de obesidade contribuíram para o abatimento entre investidores.
Ao mesmo tempo, sua receita com medicamentos para obesidade subiu com força em 2024, com as vendas desses remédios saltando 56%, impulsionando o faturamento total da empresa.
O contexto corporativo também está sendo redesenhado com demissões globais e o encerramento de seu programa de terapia celular como parte de uma reestruturação para concentrar recursos nas áreas de maior retorno.
A hipótese que embasa os ensaios se baseia em evidências preliminares e resultados observacionais. Estudos anteriores indicam que pacientes tratados com agonistas de GLP-1, como a liraglutida e semaglutida, têm risco até 12% menor de desenvolver Alzheimer, aponta reportagem do Financial Times.
Em um estudo menor com a liraglutida, informa a Reuters, foi verificada a redução de até 50% no ritmo de atrofia cerebral em regiões ligadas à memória e linguagem, embora esse estudo não tenha demonstrado benefícios cognitivos sólidos e não tenha sido projetado para avaliar essa métrica como objetivo primário.
Essas possibilidades ainda não animaram analistas financeiros. O Morgan Stanley, por exemplo, reduziu a recomendação para as ações da empresa, estimando 75% de probabilidade de fracasso nos estudos de Alzheimer e alertando para impactos negativos em cenário de resultados adversos.
Mesmo assim, até pequenas melhoras no avanço do combate a doença seriam suficientes para posicionar a empresa num novo domínio de tratamentos, podendo mudar o debate sobre o uso de drogas metabólicas no tratamento de doenças neurodegenerativas.
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